Escrito por John Peterson
Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Se não fosse suficiente perder 2,3 milhões de empregos em 2008, o maior descenso desde 1945, na segunda-feira do dia 26 de janeiro se anunciaram 68 mil demissões. A “segunda sangrenta” preenchia as manchetes, mas a hemorragia de empregos da economia norte-americana parece que não tem fim à vista. Desde a segunda-feira, mais empresas anunciaram demissões. A lista de empresas que despediram trabalhadores são: 20 mil da Caterpillar; 10 mil da Boeing; 8 mil da Pfizer; 8 mil da Sprint Nextel; 7 mil da Home Depot; 6 mil e setecentos da Starbucks; 6 mil da Intel; 5 mil da Microsoft; 5 mil da Schlumberber; 2 mil mais na General Motors; 1 mil e duzentos da Ford; 1000 da United Airlines; 700 da AOL; 600 da Target; 350 da Brooks Automation, e a lista continua.
A taxa oficial de desemprego é a maior em dezesseis anos, cerca de 7,2%, espera que se alcance os 10% nos próximos doze meses. O número de norte-americanos que é calculada nas listas de desemprego, agora é 4,78 milhões, o nível mais elevado desde que começaram as estatísticas em 1967. Oficialmente 11 milhões de postos de trabalho, mesmo com o plano de estímulo econômico do Obama, de 819.000 milhões de dólares, consiga criar empregos ou pelo menos pare as demissões de centenas de milhares de trabalhadores.
Todd Wilson, um vendedor de computadores do [estado] Kansas, colocou a questão da seguinte maneira: “Qualquer um que busque emprego agora sente este tsunami econômico, o sente como algo repentino, como algo que aparece de repente”. Segundo Heidi Shierholz, economista do Economic Policy Institute, há quatro trabalhadores parados competindo por cada emprego disponível. “Há literalmente milhões de trabalhadores parados sem esperança de encontrar um novo emprego. A espera é muito longa”. É, segundo o economisa-chefe do Mid-America Regional Council, Frank Lenk, para cada emprego perdido, se perderam uma média de outros dois.
O desemprego nos EUA aumentaram constantemente desde princípios de 2008 e havia alcançado os 11 milhões a princípio deste ano. Fonte: Bureau of Labour Statistics.
Mas não, 68 mil não é só um número. São trabalhadores individuais com famílias, amigos, casas, sonhos e esperanças no futuro. Com o recorte de postos de trabalho, os pagamentos de hipotecas, a evaporação das poupanças e as dívidas dos cartões de crédito, o futuro para milhões de trabalhadores norte-americanos é cada vez mais obscura. A dura realidade da vida sob o capitalismo, a destruição do “sonho americano” destroçado por uma avalanche de dívida, levou muitos ao desespero. Em muitos casos se pode dizer literalmente que o capitalismo mata.
Alguns chegaram a queimar suas casas para evitar os despejos por inadimplência da hipoteca, outros tomara medidas ainda mais drásticas. Na quara-feira, dia 27 de janeiro, um dia depois da “segunda sangrenta”, o país ficou comovido, mas não surpreendido, ao escutar outro assassinato múltiplo, devido ao desespero pela situação econômica. Um californiano assassinou sua esposa, seus cinco filhos e depois se suicidou depois de que ele e sua esposa perderam seus empregos no hospital. Segundo as notícias, sua par planificou conjuntamente os assassinatos como uma “saída” para a família, não viam outra saída. Segundo dizia a nota do suicídio: “por que deixar nossos filhos nas mãos de outro?”
Por suposto, não são todas as demissões que tem este trágico fim. Mas quem pode negar que as pressões deste sistema empurram os pais norte-americanos “normais” ao abismo? E que dizer de Marvin Schur, um homem de 93 anos de idade, de Michigan, que morreu congelado em sua própria casa depois que a empresa elétrica lhe cortou a luz por não pagar a fatura? Segundo um visitante médico do condado, o veterano da Segunda Guerra Mundial sofreu uma “morte lenta e dolorosa”.
Esta é a verdadeira cara do capitalismo. Portanto, não nos pode surpreender que a raiva e o mal-estar com os banqueiros, os executivos e os ricos em geral vem aumentando. No mesmo dia em que se anunciavam 68 mil empregos perdidos, se informava que Citigroup, um dos maiores receptores do plano de resgate, vai gastar 45 milhões de dólares em um avião privado para seus executivos. Os excessos empresariais despertaram os instintos de classe dos trabalhadores, 45 milhões de dólares do dinheiro público para um avião privado quando milhões de trabalhadores estão perdendo seus empregos.
Citigroup vai à cabeça com sua compra planificada de um avião privado valorizado em 45 milhões de dólares. Incrivelmente, nove de cada 10 executivos veteranos dos bancos que receberam dinheiro público ainda mantém seu emprego. Em outras palavras, aqueles que capitanearam esta última crise do capitalismo ainda estão à frente. Por exemplo, JP Morgan Chase, que recebeu milhares de milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes, ainda está sendo dirigido por James Dimon, que em 2007 conseguiu 28 milhões de dólares e depois recebeu muitos milhões a mais.
O desemprego na indústria bancária quase se triplicou e nestes últimos dois anos cerca de 100 mil trabalhadores do setor perderam o emprego. Segundo Rebecca Trevino de Louisville, Kentucky, uma mãe de três filhos, recentemente despedida de seu emprego de coordenadora de formação do Bank of America: “As mesmas pessoas seguem na cúpula, as mesmas que tomara as decisões que provocaram a sorte de nossa crise financeira. Isso é o que ocorre na direção. As pessoas de cima sempre situa a culpa em outro lugar. É surpreendente que a direção possa tomar decisões que levaram à ruína financeira a tantos e depois recebam ajuda por isto”.
Sem nenhum tipo de vigilância pública, o dinheiro do resgate simplesmente assume que os altos executivos farão “a melhor eleição” nesta ocasião. Mas como diz Jamie Court, presidente do grupo californiano Consumer Watchdog: “Quando tratas com os mesmos cachorros, possivelmente termines com as mesmas pulgas”.
Com freqüência se fala dos processos subjacentes na sociedade, com listas intermináveis de fatos e cifras. O seguinte é um exemplo das conclusões às que estão chegando muitos trabalhadores sobre a base de sua experiência. Enquanto viajava ao aeroporto O’Hare, de Chicago, a “segunda negra”, me dirige a uma mesa painel para confirmar minha hora de chegada. Três trabalhadores da aeronave, um que trabalhava no painel e dois membros da tripulação esperavam antes de montar no avião, então viram a notícia na CNN dos 68 mil trabalhadores que haviam perdido seu emprego em um só dia. Seus olhares mostravam preocupação e incredulidade, evidentemente pensavam na seguridade de seu próprio posto de trabalho. Depois o trabalhador do painel disse: “É uma vergonha, quando tudo o que faz falta é despedir a cinco pessoas”. Os outros olhavam perplexos. “Sim, só a cinco pessoas, os altos executivos da United Airlines, American Airlines, Delta Airlines, etc., e o problema se solucionaria”. Os outros riram e um acrescentou: “Que a lista seja de dez pessoas, também os chefes dos bancos”. Depois de mais risadas o terceiro acrescentou: “Deixemos que corram a seus aviões privados e que voem a qualquer sítio para nunca regressar”.
Estes são exemplos isolados de uma conversa que se pode escutar por todo o país, quando milhões de trabalhadores experimentam um processo molecular de discussão e análise da crise e suas causas. Aqui temos uns quantos mais: “Cada dia há mais má notícias e mais parados”. “Eu pensava que meu emprego estava a salvo, mas começo a ficar preocupado. O machado pode cair em qualquer momento”. “Necessitamos confiscar a propriedade dos ricos”. “Construíram muito durante o boom e agora todos são despedidos”.
Os trabalhadores estado-unidenses começam a “atar cabos” Instintivamente compreendem que só um punhado de pessoas por cima são as que tomam as decisões que afetam aos demais. Só faz alguns meses, este tipo de discussão simplesmente não se dava a uma escala tão ampla: no ônibus, no açougue, nos correios, em uma partida de futebol, na igreja, no bar, na mesa. Este é só o princípio de um profundo giro dos trabalhadores norte-americanos, os mesmos trabalhadores que no passado votaram em George W. Bush e apoiaram a guerra do Iraque, que começam a compreender a sociedade na qual vivem. As implicações revolucionárias para o futuro são evidentes.
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