9 de fevereiro de 2009

Estendem-se pela Grã-Bretanha as greves espontâneas

Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Por Socialist Appeal

Na última semana de janeiro de 2009, começou uma luta a refinaria de Lindsey em Lincolnshire. Rapidamente as greves se estenderam a Grangemouth na Escócia, Wilton em Cleveland e por todo o país. Na sexta-feira, 30 de janeiro, 3.000 trabalhadores abandonaram o trabalho em 11 fábricas. Na segunda-feira, 2 de fevereiro, milhares mais se uniram à luta. Os trabalhadores de Sellafield, a planta de reprocessamento nuclear de Cumbria, da central elétrica de Didcot, Longannet, Staythorpe, Milford Haven, Selvy, Warrington e Aberthaw deixaram de trabalhar. A manchete do The Times era: “Uma nova era de mal-estar industrial”. É um movimento coordenador, bem organizado, não oficial e totalmente ilegal com as leis anti-sindicais britânicas.

O movimento forma parte de uma onda de protesto que percorreu a Europa desde fins de 2008. Grécia foi convulsionada pelas lutas dos estudantes secundaristas e uma cadeia de greves gerais. Houve distúrbios e manifestações em quase todos os países da Europa do Leste, na Letônia, Ucrânia e Hungria, para nomear só três países, onde em 2009 se explodiu a raiva dos trabalhadores. Na Islândia, o governo teve de se demitir. Na França, em 29 de janeiro, milhões participaram em uma greve geral contra as demissões e as medidas de austeridade.

As bases deste ambiente de fúria é a crescente consciência das conseqüências da crise atual e o impacto que terão nos empregos e condições de vida da classe trabalhadora corrente. Na Grã-Bretanha a situação não é diferente. Como destacamos em outros trabalhos, esta consciência necessariamente ao princípio se desenvolve de uma maneira desigual.

Nas notícias podemos ver a luta com imagens de trabalhadores com cartazes em que se podia ler: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos”. Esta mesma frase utilizada por Gordon Brown em 2007, roubada do fascista BNP [N.T.: Partido Nacional Britânico]. Nesse momento, condenamos esta palavra-de-ordem por ser racista, e segue o sendo. Não apoiamos que os trabalhadores levem este tipo de palavra-de-ordem. Nós defendemos a unidade de todos os trabalhadores contra os golpes e manobras dos empresários.

A maioria dos trabalhadores em greve são conscientes de que seu inimigo é o empresário, IREM no caso da refinaria de Lindsey. Depois de tudo, é contra quem estão na greve. The Times (30/01/09) citava um grevista: “A disputa não é contra os trabalhadores estrangeiros, senão contra as empresas estrangeiras, que discriminam a mão-de-obra britânica (...) É uma luta pelo emprego. É uma luta pelo direito a trabalhar em nosso próprio país. De forma alguma é uma idéia racista”.

Mas também é certo que o BNP e outros grupos fascistas estão se arrastando nas margens desta luta. Mas há de ser dito que não conseguiram entrar, em alguns lugares foram expulsos dos piquetes. Os fascistas nunca foram amigos do movimento operário.

Gordon Brown denunciou a luta dos trabalhadores. Com isso o que faz é repudiar sua própria consigna racista: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos não só é divisor. Simplesmente não é permissível sob as leis da União Européia, que compromete a todos os estados membros ao ‘livre movimento de mão-de-obra’”. 

Isto significa que a luta dos trabalhadores é inútil e equivocada? De forma alguma. A situação em Lindsey, uma situação que se repete por todo o país, é que o trabalho de construção destes lugares se subcontrata fora. Lindsey é propriedade da norte-americana Total, que contrata o trabalho de engenharia da Jacobs, que por sua vez contrata a IREM, que emprega mão-de-obra italiana e portuguesa. A razão não é muito difícil de visualizar. Os salários médios mensais no setor da construção britânica é de 2.160 libras; na Itália são de 1.386 livras e em Portugal 614 livras mensais. Estes trabalhadores estrangeiros são alojados em albergues flutuantes amarrados no Mar do Norte, um sistema qualificado de “estilo soviético”.

Os trabalhadores britânicos lutam pela manutenção dos salário e as condições trabalhistas na indústria. Ainda que não apoiemos a consigna: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos”, sim apoiamos sua luta. Os trabalhadores britânicos, na prática, são excluídos do emprego mediante o mecanismo da subcontratação. IREM trará uma equipe completa para fazer o trabalho. As vagas de emprego não serão anunciadas na Grã-Bretanha. Na busca incansável por baixar os salários, os trabalhadores britânicos efetivamente são discriminados pela IREM. Se isso não é ilegal, deveria ser.

Existe uma ofensiva da classe dominante contra os trabalhadores através das instituições da União Européia. O Tribunal de Justiça europeu emitiu uma série de sentenças hostis em respeito à interpretação da aplicação da diretiva que regula as condições laborais dos trabalhadores no estrangeiro, limitando-a o máximo possível, e esta ofensiva tem implicações importantes para todos os trabalhadores dentro da UE. Basicamente, o tribunal deu luz verde aos empresários para que viajem pelo mercado de trabalho europeu e, assim, tentar reduzir os níveis de vida por todo o continente.

Mediante o pântano dos subcontratos, esperam desviar a responsabilidade das empresas, pretendem dividir-nos para controlar-nos. Nossa resposta deve ser a luta pela manutenção dos níveis de vida, lutando pelo direito ao trabalho de todos os trabalhadores, britânicos ou estrangeiros.

Uma das ironias da situação é que as repressivas leis antisindicais tories [fração do Partido Conservador] se mantiveram durante os anos do Novo Trabalhismo. Em conseqüência, esta luta é ilegal e Brown não pode apelar à natureza cautelosa dos dirigentes sindicais para que encarrilhem o movimento.

De sua parte, as cúpulas sindicais estão furiosas com o Novo Trabalhismo pela sua subida aceitação da ofensiva dos empresários da UE. Os sindicatos levam anos colocando os perigos desta diretiva trabalhistas da UE e chegaram a um acordo com o governo em 2007, em Warwick, para legislar a defesa das condições trabalhistas. Desgraçadamente, o Novo Trabalhismo estava demasiado ocupado, engordando aos empresários.

Paul Kenny, secretário-geral do sindicato GMB, comenta: “Compreensivelmente, os trabalhadores britânicos estão furiosos porque são excluídos dos empregos, simplesmente por ser britânico. O governo trabalhista é consciente desta questão e havia prometido solucionar-la, mas não cumpriu sua promessa”.

A luta dos trabalhadores realmente está dirigida contra os empresários que utilizam o truque dos subcontratos para iludir os acordos coletivos que os sindicatos britânicos defenderam durante décadas para manter os níveis na indústria da construção. Os trabalhadores que estão participando numa luta justa devem ser apoiados. Mas só ganharão se o movimento se basear no princípio da unidade da classe operária.

Tradução por Lucas Morais.

Fonte: El Militante 

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