9 de fevereiro de 2009

O “dezembro grego”: um breve balanço de um movimento traído

Escrito pelo Comitê de Redação do Marxistiki Foni

Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2009

Em dezembro a sociedade grega se viu sacudida por uma enorme rebelião da juventude que estalou depois do assassinato de um jovem estudantes nas mãos da polícia. Entre o dia 7 de dezembro e as festas natalinas, houve manifestações de jovens a cada 2-3 dias e enfretamentos com a polícia. Um mês depois podemos fazer um balanço político tendo em conta todos os elementos.

A primeira questão que devemos analisar é o caráter concreto deste movimento. É importante porque dentro da esquerda grega há muita confusão sobre este aspecto. Para a direção reformista de direita do PASOK este movimento foi simplesmente um “protesto cego” contra um incidente de violência policial. Para os dirigentes estalinistas do KKE [N.T.: Partido Comunista Grego], não houve tal movimento nem insurreição, senão um protesto da “juventude pequeno-burguesa”. Os líderes do SYRIZA qualificam o movimento como “insurreição geral da juventude”. Por suposto, todas estas definições refletem mais as opiniões subjetivas destas tendências políticas que a realidade do movimento.

Muitas vezes ao tentar descrever um fenômeno social não é possível encontrar uma palavra que o defina de maneira simples. Não é uma questão escolástica nem tampouco algo que se possa responder com fórmulas gerais abstratas. A verdade é que este movimento foi uma insurreição juvenil com sua principal base entre os estudantes secundaristas. O movimento teve um momento semi-insurrecional, sobretudo com um espírito muito combativo e de sacrifício, mas também uma forte disposição a se enfrentar fisicamente ao coração do Estado, às forças policiais gregas.

Por suposto, não foram protestos “pequeno-burgueses” como tentaram apresentar os estalinistas. A grande maioria dos estudantes que participaram no movimento procedia de famílias operárias pobres e todos estes estudantes criaram suas próprias formas independentes de coordenação durante a luta.

Por outro lado, não é correto caracterizar o movimento como uma “insurreição popular”. As seitas e os anarquistas utilizam habitualmente estas formulações, demonstraram denovo que para eles só existem duas “cores”, branco ou negro. Para eles a sociedade se enfrenta à “negra” reação ou a uma “insurreição” geral, entre os dois não existem outros matizes.

Na realidade, o movimento operário só mostrou sua simpatia com o movimento, mas não participou ativamente nele. A exceção foi a greve geral de 24 horas no dia 10 de dezembro, que coincidiu com as mobilizações juvenis. Entretanto, também devemos recordar que a greve geral já estava programada antes de que se iniciasse o movimento e que ainda a participação massiva dos trabalhadores expressavam sua solidariedade com os estudantes, depois desse dia, não participaram pelas massivas manifestações estudantis nas portas das delegacias policiais de toda a Grécia nos dias 8 e 9 de dezembro, as principais manifestações do movimento não foram tão massivas, a maior reuniu cerca de 40 mil a 45 mil pessoas.

Por suposto, os responsáveis desta situação são os dirigentes tanto dos partidos de esquerda como dos sindicatos. Com a greve geral de dezembro tinham o potencial de fazer um movimento muito maior no qual se implicaria a classe operária em geral. Assim que com estes dados é evidente que a classe operária não expressou ativamente nenhuma “intenção insurrecional” como tentaram convencer a si mesmos os sectários e sua desafortunada audiência. Por ora, os trabalhadores permitiram que seus filhos e filhas se expressassem com sua linguagem dinâmica que, inevitavelmente, eles utilizarão no futuro próximo. Na realidade, não podemos nem sequer dizer que houve uma “insurreição juvenil” generalizada, como pretendem os dirigentes do SYRIZA, porque a base principal foram os estudantes secundaristas. Os universitários não se mobilizaram massivamente e só uma pequena minoria de jovens trabalhadores ativos participou nas manifestações.

Um movimento traído

O que podemos dizer é que o movimento de dezembro teve um elemento semi-insurrecional, mas que só conseguiu parcialmente uma expressão de massas e teve uma curta duração. As duas manifestações depois das férias de festividades foram pequenas, com a participação de 3 mil a 4 mil pessoas, sobretudo universitários mobilizados por frentes juvenis ultra-esquerdistas e pelo SYRIZA. A razão principal do final prematuro do movimento foi a traição das direções das organizações de massas tradicionais, tanto políticas como sindicais.

Pela primeira vez nos últimos vinte anos vimos como o movimento juvenil saía à rua perante a hostilidade da direção dos dois principais partidos operários. A direção do PASOK [Partido de esquerdas] pediu abertamente aos estudantes para “regressarem às classes”, enquanto que os dirigentes do Partido Comunista (KKE) identificavam o movimento com as ações pequeno-burguesas aventureiras dos anarquistas, e se negaram não só a participar, mas também disseram que não existia tal movimento. A direção do SYRIZA, ainda que tenha apoiado e participado do movimento, depois dos ataques da burguesia adotou uma tática patética e se negou a apoiar ativamente a necessidade de intensificar o movimento e coordená-lo com a luta dos trabalhadores. Tudo isto reflete a total bancarrota dos dirigentes social-democratas e estalinistas que será muito mais óbvia segundo se acelere a luta de classes.

Como resultado desta traição por parte das direções tradicionais, durante a curta duração do movimento o vazio de direção foi preenchido pelos anarquistas e as seitas ultra-esquerdistas. Com suas consignas habituais abstratas e caóticas, como “a besta está nas ruas” ou “ocupemos cada praça” e outras coisas no estilo, sem propor nenhum objetivo claro e nem reivindicações, os anarquistas e seus leais seguidores, os sectários, dirigiram o movimento a um beco sem saída, e empurraram as massas estudantis rapidamente à confusão e o desencanto. Além da hostilidade dos dirigentes dos partidos operários, esta foi a segunda razão pela qual o movimento teve uma vida breve.

Um terceiro fator, e não menos importante, foi o papel do terror de Estado. No momento da escritura deste artigo, 68 jovens continuam presos. A maioria deles de forma alguma participou dos enfrentamentos com a polícia e foram detidos simplesmente porque estavam ao largo [do movimento] ou são imigrantes. A tragédia é que estes jovens enfrentam a acusação de cometer atos de terrorismo e alguns inclusive tem perspectivas de condenação de 6 a 8 anos de prisão!

A ação “Luta revolucionária”, organização que defende o terrorismo individual, foi muito útil para o Estado em sua campanha de terror contra os estudantes. No dia 6 de janeiro feriram seriamente um policial, este incidente foi utilizado para aguçar os sentimentos de simpatia com a polícia entre um setor amplo da população, foi utilizado como a cartada para mais brutalidade policial, deste modo colocaram mais medo entre a juventude e freava sua participação nas manifestações.

Uma situação social explosiva e as perspectivas

O movimento de dezembro foi só o prelúdio das grandes batalhas de classe que virão no futuro imediato. A crise do capitalismo grego se aprofunda e o ambiente na sociedade se mantém explosivo. Pouco depois do movimento juvenil de dezembro, entre o dia 18 e 28 de janeiro, presenciamos mobilizações massivas dos camponeses pobres de toda a Grécia. Vinte e dois mil tratores bloquearam os caminhões nacionais em uma luta muito combativa contra os baixos preços que lhes são oferecidos aos camponeses por seus principais produtos, pelas empresas de alimentação, fora demonstrado a falta de sensibilidade do governo de direita ante o sofrimento dos pequeno-camponeses que se unem devido à pressão da crise atual. A luta dos camponeses contou com uma participação massiva e o débil governo da Nova Democracia teve de destinar 500 milhões de euros em subvenções como a única maneira de evitar outra nova rodada de explosão social.

Esta mobilização dos camponeses data três anos nos quais a maioria dos setores da sociedade mobilizaram contra o governo e os ataques dos capitalistas aos níveis de vida. Vimos os trabalhadores participarem em uma greve geral após outra, dos estudantes universitários e de secundaristas mobilizarem-se reiteradamente, aos comerciantes, inclusive os professores e agora os camponeses. Aqui temos um exemplo claro do potencial revolucionário que existe em cada um dos níveis da sociedade. Com o governo da direita em uma crise profunda e permanente, com os dois partidos burgueses (Nova Democracia e o pequeno Alerta Popular Ortodoxa, o LAOS, como se conhece) conseguindo menos de 33% nas pesquisas, se os partidos operários tivessem uma política revolucionária, a tomada do poder na Grécia poderia ser, sem exagero, uma questão de meses.

Entretanto, a ausência do fator subjetivo revolucionário complica a situação. Inevitavelmente, no próximo período o governo do ND passará à história sob as marteladas da crise econômica e a crescente luta de classes. A pressão sob a direção da Confederação Grega dos Trabalhadores (GSEE) para que organize outra greve geral está acumulando, nesta ocasião contra a onda de demissões nas indústrias. Os trabalhadores terão que passar pela experiência de lutas maiores e pela de outro governo reformista do PASOK, ou possivelmente uma coalizão PASOK-SYRIZA.

Seu instinto de classes lhes levarão no próximo período às idéias mais revolucionárias e efetivas, as idéias do marxismo. Por isso a única solução política real está na luta cotidiana paciente pela construção de uma corrente marxista de massas, com profundas raízes no movimento operário e na juventude grega, como a ferramenta necessária para a vitória decisiva da classe operária contra a burguesia reacionária grega e a construção de uma sociedade verdadeiramente socialista, onde não exista a exploração. A esta tarefa está dedicada a seção grega da Corrente Marxista Internacional, que edita o jornal Marxistiki Foni.

Traduzido por Lucas Morais (luckaz@gmail.com)

Alan Woods apresentará Reformismo e Revolução na Feira do Livro de Havana

Escrito por In Defence of Marxism

Quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O pensador marxista britânico, Alan Woods, apresentará seu livro Reformismo o Revolución na Feira de Havana, que começará no próximo dia 12, informou hoje a Prensa Latina através de fontes próximas ao autor.

Publicado pela Fundación Federico Engels (FFE), o texto explica a absoluta atualidade e vigência do marxismo frente às correntes de opinião que tenderam a deslegitimar-lo, após o colapso do socialismo no leste europeu e a contra-ofensiva ideológica burguesa.

Esta recente entrega do intelectual reforça sua minuciosa busca de argumentos para assumir essa filosofia como imprescindível arma de luta.

A FFE participou das mais recentes edições do principal evento cultural em Cuba e, junto aos livros, se apresentam folhetos, pôsteres e outros suportes de seu know-how.

Essa organização com sede em Madrid possui um amplo catálogo, no qual ressaltam as reedições de textos fundamentais do marxismo, como o Manifesto comunista; A origem da família, a propriedade privada e o Estado; Crítica do programa de Gotha e O 18 Brumário de Luis Bonaparte.

O próprio autor trará à público seu texto no dia 16 na sala Carlos J. Finlay, do complexo Morro-Cabaña, e uma vez mais a ocasião será um gesto de solidariedade com a Revolução e a causa dos cinco antiterroristas cubanos, presos em cárceres norte-americanos.

Na difusão passada, na Venezuela, do Reformismo o Revolución, o presidente Hugo Chávez citou o volume e recomendou sua leitura em várias oportunidades.

Fontes: Granma and Prensa Latina

Ucrânia: Trabalhadores ocupam a fábrica Kherson

Por Oksana Boiko

Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Na terça-feira pela manhã, no dia 3 de fevereiro, os trabalhadores da Kherson Machine Building Plant, KNF, (que produz maquinaria agricultora) ocupou uma das instalações da fábrica. As 9h30m cerca de 300 trabalhadores da KNF adentraram os andares da fábrica e ocuparam o prédio administrativo.

Durante esta ocupação, nenhum dos trabalhadores foram afetados, os guardas de segurança locais não impuseram uma resistência séria. Os trabalhadores tomaram o prédio administrativo e demandou a nacionalização desta empresa ucraniana estratégica, juntamente com a demanda de pagamento dos salários atrasados.

Um trabalhador que tomou parte nesta ação falou aos jornalistas que os trabalhadores não receberam seus salários desde setembro e que eles estão prontos para lutar até a vitória. Os grevistas abordaram os trabalhadores da Lvov Bus Factory [N.T.: fábrica de ônibus] e outras fábricas buscando solidariedade.

Agora os trabalhadores estão no prédio e muitos estão ao lado de fora segurando cartazes. De acordo com as testemunhas, a situação em geral é normal, mas mais e mais pessoas estão vindo para se unir aos grevistas.

Viktor Shapinov, da Corrente Marxista Internacional, que está apoiando a ação dos trabalhadores, explicou que, “neste momento a fábrica está totalmente sob controle operário, a situação está sendo monitorada pelo conselho dos trabalhadores, liderado por Leonid Nemchinov. Aqui não há polícia em volta do prédio”.

De acordo com Shapinov, a decisão de ocupar a fábrica foi tomada após as autoridades recusaram garantir a permissão para uma demonstração [protesto] no centro da cidade de Kherson, onde centenas de trabalhadores do KNF tomaram parte.

“As pessoas não tem qualquer escolha. Eles não receberam nenhum salário desde setembro de 2008. Os salários passados vem no valor de 4,478,000 hryvni (600.000 mil). No último encontro com os gerentes, os empregados foram informados de que os patrões não estão interessados em salvar a fábrica. Quase 1300 trabalhadores podem perder seus postos de trabalho, enquanto o equipamento da fábrica foi movido para o ferro-velho”, explicou Viktor Shapinov.

As principais demandas dos trabalhadores da KNF são: todos os salários devem ser pagos, nacionalização da fábrica sem nenhuma compensação aos patrões, que sabotaram a produção industrial.

O que se seguiu é que podíamos ler na declaração dos trabalhadores da KNF: “Nós demandamos que essa situação emergente seja resolvida em uma semana, ou nós iremos iniciar ações extremas de protesto para proteger nossas famílias do frio e do estorvo. Os efeitos do fechamento desta empresa estratégica pode ser compreendido pelo governo: uma queda nos rendimentos do orçamento, a destruição de mais de mil postos de trabalho, os custos adicionais da importação de máquinas estrangeiras e mais problemas sociais em Kherson”.

Shapinov acrescentou que, “na quinta-feira, os trabalhadores tiveram conversas com o governador (oblast) do distrito de Kherson, mas ali não houve propostas concretas para resolver este problema. As pessoas estão prontas para lutar até o fim”.

Nós devemos recordar que a situação econômica na Ucrânia continua extremamente difícil. Nos últimos meses a produção industrial neste país caiu um terço e continua a cair.

Tradução: Lucas Morais

Estendem-se pela Grã-Bretanha as greves espontâneas

Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Por Socialist Appeal

Na última semana de janeiro de 2009, começou uma luta a refinaria de Lindsey em Lincolnshire. Rapidamente as greves se estenderam a Grangemouth na Escócia, Wilton em Cleveland e por todo o país. Na sexta-feira, 30 de janeiro, 3.000 trabalhadores abandonaram o trabalho em 11 fábricas. Na segunda-feira, 2 de fevereiro, milhares mais se uniram à luta. Os trabalhadores de Sellafield, a planta de reprocessamento nuclear de Cumbria, da central elétrica de Didcot, Longannet, Staythorpe, Milford Haven, Selvy, Warrington e Aberthaw deixaram de trabalhar. A manchete do The Times era: “Uma nova era de mal-estar industrial”. É um movimento coordenador, bem organizado, não oficial e totalmente ilegal com as leis anti-sindicais britânicas.

O movimento forma parte de uma onda de protesto que percorreu a Europa desde fins de 2008. Grécia foi convulsionada pelas lutas dos estudantes secundaristas e uma cadeia de greves gerais. Houve distúrbios e manifestações em quase todos os países da Europa do Leste, na Letônia, Ucrânia e Hungria, para nomear só três países, onde em 2009 se explodiu a raiva dos trabalhadores. Na Islândia, o governo teve de se demitir. Na França, em 29 de janeiro, milhões participaram em uma greve geral contra as demissões e as medidas de austeridade.

As bases deste ambiente de fúria é a crescente consciência das conseqüências da crise atual e o impacto que terão nos empregos e condições de vida da classe trabalhadora corrente. Na Grã-Bretanha a situação não é diferente. Como destacamos em outros trabalhos, esta consciência necessariamente ao princípio se desenvolve de uma maneira desigual.

Nas notícias podemos ver a luta com imagens de trabalhadores com cartazes em que se podia ler: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos”. Esta mesma frase utilizada por Gordon Brown em 2007, roubada do fascista BNP [N.T.: Partido Nacional Britânico]. Nesse momento, condenamos esta palavra-de-ordem por ser racista, e segue o sendo. Não apoiamos que os trabalhadores levem este tipo de palavra-de-ordem. Nós defendemos a unidade de todos os trabalhadores contra os golpes e manobras dos empresários.

A maioria dos trabalhadores em greve são conscientes de que seu inimigo é o empresário, IREM no caso da refinaria de Lindsey. Depois de tudo, é contra quem estão na greve. The Times (30/01/09) citava um grevista: “A disputa não é contra os trabalhadores estrangeiros, senão contra as empresas estrangeiras, que discriminam a mão-de-obra britânica (...) É uma luta pelo emprego. É uma luta pelo direito a trabalhar em nosso próprio país. De forma alguma é uma idéia racista”.

Mas também é certo que o BNP e outros grupos fascistas estão se arrastando nas margens desta luta. Mas há de ser dito que não conseguiram entrar, em alguns lugares foram expulsos dos piquetes. Os fascistas nunca foram amigos do movimento operário.

Gordon Brown denunciou a luta dos trabalhadores. Com isso o que faz é repudiar sua própria consigna racista: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos não só é divisor. Simplesmente não é permissível sob as leis da União Européia, que compromete a todos os estados membros ao ‘livre movimento de mão-de-obra’”. 

Isto significa que a luta dos trabalhadores é inútil e equivocada? De forma alguma. A situação em Lindsey, uma situação que se repete por todo o país, é que o trabalho de construção destes lugares se subcontrata fora. Lindsey é propriedade da norte-americana Total, que contrata o trabalho de engenharia da Jacobs, que por sua vez contrata a IREM, que emprega mão-de-obra italiana e portuguesa. A razão não é muito difícil de visualizar. Os salários médios mensais no setor da construção britânica é de 2.160 libras; na Itália são de 1.386 livras e em Portugal 614 livras mensais. Estes trabalhadores estrangeiros são alojados em albergues flutuantes amarrados no Mar do Norte, um sistema qualificado de “estilo soviético”.

Os trabalhadores britânicos lutam pela manutenção dos salário e as condições trabalhistas na indústria. Ainda que não apoiemos a consigna: “Os empregos britânicos para os trabalhadores britânicos”, sim apoiamos sua luta. Os trabalhadores britânicos, na prática, são excluídos do emprego mediante o mecanismo da subcontratação. IREM trará uma equipe completa para fazer o trabalho. As vagas de emprego não serão anunciadas na Grã-Bretanha. Na busca incansável por baixar os salários, os trabalhadores britânicos efetivamente são discriminados pela IREM. Se isso não é ilegal, deveria ser.

Existe uma ofensiva da classe dominante contra os trabalhadores através das instituições da União Européia. O Tribunal de Justiça europeu emitiu uma série de sentenças hostis em respeito à interpretação da aplicação da diretiva que regula as condições laborais dos trabalhadores no estrangeiro, limitando-a o máximo possível, e esta ofensiva tem implicações importantes para todos os trabalhadores dentro da UE. Basicamente, o tribunal deu luz verde aos empresários para que viajem pelo mercado de trabalho europeu e, assim, tentar reduzir os níveis de vida por todo o continente.

Mediante o pântano dos subcontratos, esperam desviar a responsabilidade das empresas, pretendem dividir-nos para controlar-nos. Nossa resposta deve ser a luta pela manutenção dos níveis de vida, lutando pelo direito ao trabalho de todos os trabalhadores, britânicos ou estrangeiros.

Uma das ironias da situação é que as repressivas leis antisindicais tories [fração do Partido Conservador] se mantiveram durante os anos do Novo Trabalhismo. Em conseqüência, esta luta é ilegal e Brown não pode apelar à natureza cautelosa dos dirigentes sindicais para que encarrilhem o movimento.

De sua parte, as cúpulas sindicais estão furiosas com o Novo Trabalhismo pela sua subida aceitação da ofensiva dos empresários da UE. Os sindicatos levam anos colocando os perigos desta diretiva trabalhistas da UE e chegaram a um acordo com o governo em 2007, em Warwick, para legislar a defesa das condições trabalhistas. Desgraçadamente, o Novo Trabalhismo estava demasiado ocupado, engordando aos empresários.

Paul Kenny, secretário-geral do sindicato GMB, comenta: “Compreensivelmente, os trabalhadores britânicos estão furiosos porque são excluídos dos empregos, simplesmente por ser britânico. O governo trabalhista é consciente desta questão e havia prometido solucionar-la, mas não cumpriu sua promessa”.

A luta dos trabalhadores realmente está dirigida contra os empresários que utilizam o truque dos subcontratos para iludir os acordos coletivos que os sindicatos britânicos defenderam durante décadas para manter os níveis na indústria da construção. Os trabalhadores que estão participando numa luta justa devem ser apoiados. Mas só ganharão se o movimento se basear no princípio da unidade da classe operária.

Tradução por Lucas Morais.

Fonte: El Militante 

A “segunda sangrenta” e a mudança de consciência nos EUA

Escrito por John Peterson

Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Se não fosse suficiente perder 2,3 milhões de empregos em 2008, o maior descenso desde 1945, na segunda-feira do dia 26 de janeiro se anunciaram 68 mil demissões. A “segunda sangrenta” preenchia as manchetes, mas a hemorragia de empregos da economia norte-americana parece que não tem fim à vista. Desde a segunda-feira, mais empresas anunciaram demissões. A lista de empresas que despediram trabalhadores são: 20 mil da Caterpillar; 10 mil da Boeing; 8 mil da Pfizer; 8 mil da Sprint Nextel; 7 mil da Home Depot; 6 mil e setecentos da Starbucks; 6 mil da Intel; 5 mil da Microsoft; 5 mil da Schlumberber; 2 mil mais na General Motors; 1 mil e duzentos da Ford; 1000 da United Airlines; 700 da AOL; 600 da Target; 350 da Brooks Automation, e a lista continua.

A taxa oficial de desemprego é a maior em dezesseis anos, cerca de 7,2%, espera que se alcance os 10% nos próximos doze meses. O número de norte-americanos que é calculada nas listas de desemprego, agora é 4,78 milhões, o nível mais elevado desde que começaram as estatísticas em 1967. Oficialmente 11 milhões de postos de trabalho, mesmo com o plano de estímulo econômico do Obama, de 819.000 milhões de dólares, consiga criar empregos ou pelo menos pare as demissões de centenas de milhares de trabalhadores.

Todd Wilson, um vendedor de computadores do [estado] Kansas, colocou a questão da seguinte maneira: “Qualquer um que busque emprego agora sente este tsunami econômico, o sente como algo repentino, como algo que aparece de repente”. Segundo Heidi Shierholz, economista do Economic Policy Institute, há quatro trabalhadores parados competindo por cada emprego disponível. “Há literalmente milhões de trabalhadores parados sem esperança de encontrar um novo emprego. A espera é muito longa”. É, segundo o economisa-chefe do Mid-America Regional Council, Frank Lenk, para cada emprego perdido, se perderam uma média de outros dois.

O desemprego nos EUA aumentaram constantemente desde princípios de 2008 e havia alcançado os 11 milhões a princípio deste ano. Fonte: Bureau of Labour Statistics.

Mas não, 68 mil não é só um número. São trabalhadores individuais com famílias, amigos, casas, sonhos e esperanças no futuro. Com o recorte de postos de trabalho, os pagamentos de hipotecas, a evaporação das poupanças e as dívidas dos cartões de crédito, o futuro para milhões de trabalhadores norte-americanos é cada vez mais obscura. A dura realidade da vida sob o capitalismo, a destruição do “sonho americano” destroçado por uma avalanche de dívida, levou muitos ao desespero. Em muitos casos se pode dizer literalmente que o capitalismo mata.

Alguns chegaram a queimar suas casas para evitar os despejos por inadimplência da hipoteca, outros tomara medidas ainda mais drásticas. Na quara-feira, dia 27 de janeiro, um dia depois da “segunda sangrenta”, o país ficou comovido, mas não surpreendido, ao escutar outro assassinato múltiplo, devido ao desespero pela situação econômica. Um californiano assassinou sua esposa, seus cinco filhos e depois se suicidou depois de que ele e sua esposa perderam seus empregos no hospital. Segundo as notícias, sua par planificou conjuntamente os assassinatos como uma “saída” para a família, não viam outra saída. Segundo dizia a nota do suicídio: “por que deixar nossos filhos nas mãos de outro?”

Por suposto, não são todas as demissões que tem este trágico fim. Mas quem pode negar que as pressões deste sistema empurram os pais norte-americanos “normais” ao abismo? E que dizer de Marvin Schur, um homem de 93 anos de idade, de Michigan, que morreu congelado em sua própria casa depois que a empresa elétrica lhe cortou a luz por não pagar a fatura? Segundo um visitante médico do condado, o veterano da Segunda Guerra Mundial sofreu uma “morte lenta e dolorosa”.

Esta é a verdadeira cara do capitalismo. Portanto, não nos pode surpreender que a raiva e o mal-estar com os banqueiros, os executivos e os ricos em geral vem aumentando. No mesmo dia em que se anunciavam 68 mil empregos perdidos, se informava que Citigroup, um dos  maiores receptores do plano de resgate, vai gastar 45 milhões de dólares em um avião privado para seus executivos. Os excessos empresariais despertaram os instintos de classe dos trabalhadores, 45 milhões de dólares do dinheiro público para um avião privado quando milhões de trabalhadores estão perdendo seus empregos.

Citigroup vai à cabeça com sua compra planificada de um avião privado valorizado em 45 milhões de dólares. Incrivelmente, nove de cada 10 executivos veteranos dos bancos que receberam dinheiro público ainda mantém seu emprego. Em outras palavras, aqueles que capitanearam esta última crise do capitalismo ainda estão à frente. Por exemplo, JP Morgan Chase, que recebeu milhares de milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes, ainda está sendo dirigido por James Dimon, que em 2007 conseguiu 28 milhões de dólares e depois recebeu muitos milhões a mais.

O desemprego na indústria bancária quase se triplicou e nestes últimos dois anos cerca de 100 mil trabalhadores do setor perderam o emprego. Segundo Rebecca Trevino de Louisville, Kentucky, uma mãe de três filhos, recentemente despedida de seu emprego de coordenadora de formação do Bank of America: “As mesmas pessoas seguem na cúpula, as mesmas que tomara as decisões que provocaram a sorte de nossa crise financeira. Isso é o que ocorre na direção. As pessoas de cima sempre situa a culpa em outro lugar. É surpreendente que a direção possa tomar decisões que levaram à ruína financeira a tantos e depois recebam ajuda por isto”.

Sem nenhum tipo de vigilância pública, o dinheiro do resgate simplesmente assume que os altos executivos farão “a melhor eleição” nesta ocasião. Mas como diz Jamie Court, presidente do grupo californiano Consumer Watchdog: “Quando tratas com os mesmos cachorros, possivelmente termines com as mesmas pulgas”.

Com freqüência se fala dos processos subjacentes na sociedade, com listas intermináveis de fatos e cifras. O seguinte é um exemplo das conclusões às que estão chegando muitos trabalhadores sobre a base de sua experiência. Enquanto viajava ao aeroporto O’Hare, de Chicago, a “segunda negra”, me dirige a uma mesa painel para confirmar minha hora de chegada. Três trabalhadores da aeronave, um que trabalhava no painel e dois membros da tripulação esperavam antes de montar no avião, então viram a notícia na CNN dos 68 mil trabalhadores que haviam perdido seu emprego em um só dia. Seus olhares mostravam preocupação e incredulidade, evidentemente pensavam na seguridade de seu próprio posto de trabalho. Depois o trabalhador do painel disse: “É uma vergonha, quando tudo o que faz falta é despedir a cinco pessoas”. Os outros olhavam perplexos. “Sim, só a cinco pessoas, os altos executivos da United Airlines, American Airlines, Delta Airlines, etc., e o problema se solucionaria”. Os outros riram e um acrescentou: “Que a lista seja de dez pessoas, também os chefes dos bancos”. Depois de mais risadas o terceiro acrescentou: “Deixemos que corram a seus aviões privados e que voem a qualquer sítio para nunca regressar”.

Estes são exemplos isolados de uma conversa que se pode escutar por todo o país, quando milhões de trabalhadores experimentam um processo molecular de discussão e análise da crise e suas causas. Aqui temos uns quantos mais: “Cada dia há mais má notícias e mais parados”. “Eu pensava que meu emprego estava a salvo, mas começo a ficar preocupado. O machado pode cair em qualquer momento”. “Necessitamos confiscar a propriedade dos ricos”. “Construíram muito durante o boom e agora todos são despedidos”.

Os trabalhadores estado-unidenses começam a “atar cabos” Instintivamente compreendem que só um punhado de pessoas por cima são as que tomam as decisões que afetam aos demais. Só faz alguns meses, este tipo de discussão simplesmente não se dava a uma escala tão ampla: no ônibus, no açougue, nos correios, em uma partida de futebol, na igreja, no bar, na mesa. Este é só o princípio de um profundo giro dos trabalhadores norte-americanos, os mesmos trabalhadores que no passado votaram em George W. Bush e apoiaram a guerra do Iraque, que começam a compreender a sociedade na qual vivem. As implicações revolucionárias para o futuro são evidentes.

Traduzido por Lucas Morais (luckaz@gmail.com)