Desliguei o computador e saí em direção à janela do quarto. Notei que não se podia mais ver o centro da cidade. Será que a Savassi e sua gente elegante estavam sendo engolidas?
Estava muito escuro para aquela hora da tarde, não mais e nem menos que 3 e 30 da tarde. O ronco aumentava, o vento aumentava. Como que comandado por um impulso dirigido por minha infância, concluí: vem aí uma tempestade com chuva de granizo, e das fortes.
Saí fechando as janelas do apartamento, metendo as partes de vidro por detrás das partes de alumínio. Fechei uma, duas e três janelas. O ronco despencou dos céus, rápido e em pedaços frios. Abri uma pequena fresta na janela de meu quarto e fiquei a admirar o que via. No início bolotas de mais ou menos 2 centímetros de diâmetro, mas logo depois, com o crescer do ronco, foram caindo bolotas maiores e depois não mais bolotas mas sim chuva em gelo disforme, na verdade pedaços de até 15 centrímetros.
Sorri e concluí que havia um verdadeiro iceberg voando pelos céus da Belo Horizonte.
Me lembrei que quando criança, 7 anos eu tinha, pelo mês de outubro caíu uma tempestade. Em segundos levou o telhado da casa onde morava eu e minha famíla. Pelo vitrô da cozinha pude observar, até onde eu pude ver, que as casas ao redor estavam também descabeladas. O céu derramava bolotas e mais bolotas de gelo. Minha mãe chorava e rezava desesperada. O vento comia solto. Como que dando um pontapé na porta da cozinha arrancou a tramela pregada com prego de vigota e a atirou em algum canto da sala. As pedrinhas de gelo me encantavam. Pipocavam nos móveis e eu agarrava um bocado e metia na boca. A gente não tinha geladeira. E eu achava as bolotinhas coisas bonitas de se ver e sentir. Uma maravilha aquelas bolinhas transparentes e frias. Não entendia por que minha mãe tinha tanto medo.
Estava envolto nesses pensamentos quando ouví um estampido sêco que me fez lembrar que não tinha fechado todas as janelas.
As merdas das janelas da lavanderia, sendo do tipo maximoar, quando abertas ficam quase que horizontais, posudas, esperando as pedradas de gêlo. Dito e feito. O gelo bateu cortante e lá se foi prô saco o vidro de uma delas. Feche a outra e fui segurar com as mãos a janela da sala que é todinha de vidro com panos de 1 metro por 1 e vinte. Alvanquei as mãos espaldadas de dentro para fora observando as velozes pedras que nelas batiam ricocheteando. 15 minutos se passaram? Talvez um pouco mais.
De uma só rajada o vento, tal qual comandante da chuva, mudou sua direção para oeste levando a chuva com ele, que agora caia sem pedras.
Sentei no sofá e me lembrei que os ecologistas, ambientalistas, fazem uma algazarra dananada com a questão do aquecimento global e que volta e meia dizem que o gelo dos polos está se derretendo e que isso provocará um aumento significativo no nível das marés. Discordo desses bananas. O gelo dos polos está se desprendendo e voando para os céus e depois caem em nossas cabeças como as bombas de mister Bush atiradas contra os povos indefesos em diferentes cantos do mundo. Falei alto: porco.
Olhei para um artigo no jornal sobre a cadeira. Falava da crise financeira do capitalismo e avaliei que os economistas burgueses são verdadeiras antas que sabem calcular mas que por absoluta falta de criatividade e de conhecimento não conseguem comparar a atual crise com a crise de 1929, e como disse um velhinho simpático com cara de tartaruga em um programa de televisão: - quando muito os economistas conseguem apenas comparar a crise atual com o 11 de setembro das Torres Gêmeas.
A chuva amainava. Liguei novamente o computador e escrevi essas coisas que ora estou lhes relatando. Um vento frio entrou pela janela enquanto eu espiava para o norte. Pensei: - Grande Venezuela, sopre seu sopro quente e revolucionário por todo o mundo. Danem-se os icebergs voadores!
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