19 de setembro de 2008

O ICEBERG VOADOR

Eu estava lendo o texto de Lucas, meu amigo e camarada, sobre as eleições em BH. Uma dor infernal nas costas. Êta cadeirinha de merda. Ou coluna? Num repente o vento assoviou na janela da sala espalhando a papelada por todo lado. Acostumado com as tempestades em minha infância quando morava pelas barrancas do Rio Paraná, nas bandas da fronteira com MatoGrosso, Goiás e Minas, apurei os ouvidos e pude notar que sem dúvida o ronco vinha dos céus.

Desliguei o computador e saí em direção à janela do quarto. Notei que não se podia mais ver o centro da cidade. Será que a Savassi e sua gente elegante estavam sendo engolidas?

Estava muito escuro para aquela hora da tarde, não mais e nem menos que 3 e 30 da tarde. O ronco aumentava, o vento aumentava. Como que comandado por um impulso dirigido por minha infância, concluí: vem aí uma tempestade com chuva de granizo, e das fortes.

Saí fechando as janelas do apartamento, metendo as partes de vidro por detrás das partes de alumínio. Fechei uma, duas e três janelas. O ronco despencou dos céus, rápido e em pedaços frios. Abri uma pequena fresta na janela de meu quarto e fiquei a admirar o que via. No início bolotas de mais ou menos 2 centímetros de diâmetro, mas logo depois, com o crescer do ronco, foram caindo bolotas maiores e depois não mais bolotas mas sim chuva em gelo disforme, na verdade pedaços de até 15 centrímetros.

Sorri e concluí que havia um verdadeiro iceberg voando pelos céus da Belo Horizonte.

Me lembrei que quando criança, 7 anos eu tinha, pelo mês de outubro caíu uma tempestade. Em segundos levou o telhado da casa onde morava eu e minha famíla. Pelo vitrô da cozinha pude observar, até onde eu pude ver, que as casas ao redor estavam também descabeladas. O céu derramava bolotas e mais bolotas de gelo. Minha mãe chorava e rezava desesperada. O vento comia solto. Como que dando um pontapé na porta da cozinha arrancou a tramela pregada com prego de vigota e a atirou em algum canto da sala. As pedrinhas de gelo me encantavam. Pipocavam nos móveis e eu agarrava um bocado e metia na boca. A gente não tinha geladeira. E eu achava as bolotinhas coisas bonitas de se ver e sentir. Uma maravilha aquelas bolinhas transparentes e frias. Não entendia por que minha mãe tinha tanto medo.

Estava envolto nesses pensamentos quando ouví um estampido sêco que me fez lembrar que não tinha fechado todas as janelas.

As merdas das janelas da lavanderia, sendo do tipo maximoar, quando abertas ficam quase que horizontais, posudas, esperando as pedradas de gêlo. Dito e feito. O gelo bateu cortante e lá se foi prô saco o vidro de uma delas. Feche a outra e fui segurar com as mãos a janela da sala que é todinha de vidro com panos de 1 metro por 1 e vinte. Alvanquei as mãos espaldadas de dentro para fora observando as velozes pedras que nelas batiam ricocheteando. 15 minutos se passaram? Talvez um pouco mais.

De uma só rajada o vento, tal qual comandante da chuva, mudou sua direção para oeste levando a chuva com ele, que agora caia sem pedras.

Sentei no sofá e me lembrei que os ecologistas, ambientalistas, fazem uma algazarra dananada com a questão do aquecimento global e que volta e meia dizem que o gelo dos polos está se derretendo e que isso provocará um aumento significativo no nível das marés. Discordo desses bananas. O gelo dos polos está se desprendendo e voando para os céus e depois caem em nossas cabeças como as bombas de mister Bush atiradas contra os povos indefesos em diferentes cantos do mundo. Falei alto: porco.

Olhei para um artigo no jornal sobre a cadeira. Falava da crise financeira do capitalismo e avaliei que os economistas burgueses são verdadeiras antas que sabem calcular mas que por absoluta falta de criatividade e de conhecimento não conseguem comparar a atual crise com a crise de 1929, e como disse um velhinho simpático com cara de tartaruga em um programa de televisão: - quando muito os economistas conseguem apenas comparar a crise atual com o 11 de setembro das Torres Gêmeas.

A chuva amainava. Liguei novamente o computador e escrevi essas coisas que ora estou lhes relatando. Um vento frio entrou pela janela enquanto eu espiava para o norte. Pensei: - Grande Venezuela, sopre seu sopro quente e revolucionário por todo o mundo. Danem-se os icebergs voadores!

16 de setembro de 2008

Declaração da Esquerda Marxista - (www.marxismo.org.br)

Ao Presidente Lula
Ao Ministro Celso Amorim

Com surpresa e indignação tomamos conhecimento das declarações do Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, no último dia 9 de setembro, sobre os acontecimentos na Bolívia:

"Estamos analisando a forma como o governo boliviano poderá garantir a integridade da rede de gasodutos" e acrescentou que o governo brasileiro esta disposto a "abrir os contatos diretos com os governadores do Oriente, se necessário."(Washington Post, 9/09/08).

A isto se soma uma absurda iniciativa de se dispor a mediar um “diálogo entre as partes” como se não se tratasse de ações fascistas das oligarquias bolivianas contra um governo com enorme apoio popular. Tratar os bandos fascistas de igual para igual com o governo da Bolívia é tentar dar-lhes legitimidade e ajudar a dividir a Bolívia.

Qualquer sindicalista, trabalhador, socialista e democrata pode se perguntar: como é possível o governo brasileiro abrir dialogo com os representantes da oligarquia boliviana fascista e golpista?!
Estes golpistas fascistas que iniciaram uma tentativa de golpe contra o governo de Evo Morales são os mesmos que estão tentando dividir a Bolívia para impedir o avanço da revolução que se aprofunda na América Latina.
Seu objetivo é liquidar as conquistas que a luta dos trabalhadores bolivianos impuseram como a nacionalização do gás e do petróleo.
O recente resultado do referendo revogatório de 10 de agosto foi uma demonstração de força e combatividade das massas bolivianas que não aceitam um retrocesso após os grandes combates de 2003, 2005 e da vitória eleitoral de dezembro de 2005.
A realidade é que após ser derrotada no referendo, a burguesia boliviana com o apoio do governo dos EUA, abriu uma ofensiva contra o governo de Evo Morales saindo da propaganda de divisão do país e se transformando em um combate aberto e violento.
O embaixador dos EUA, Philip Goldberg, se reuniu na quinta, 10/09/08, com a prefeita de Chuquisaca, Savina Cuellar, em Sucre, e com a organização ultra-racista Comitê Interinstitucional, que em 24 de maio humilharam vários camponeses desnudando-os e fazendo-os pedir perdão de joelhos na praça principal da cidade. Dias antes o embaixador dos EUA se reuniu em Santa Cruz com o prefeito Rubén Costas, o chefe público da conspiração reacionária e fascista. Assim, tem toda razão Evo Morales em expulsar o chefe da conspiração, o embaixador Philip Goldberg.
O objetivo do imperialismo e da oligarquia boliviana é claro. Já vimos este filme. Em 11/09/2008 faz 35 anos que a burguesia chilena, com o apoio do governo dos EUA, assassinou o presidente Salvador Allende e iniciou uma das mais sangrentas ditaduras do mundo. É isto que o governo Bush e os governadores dos departamentos orientais da Bolívia pretendem.
A sabotagem e explosão de gasodutos, o lockout dos setores patronais divisionistas e forças reacionárias na Bolívia são a prova que quando os interesses dos poderosos são tocados ou ameaçados eles não recuam frente a nenhuma consideração “democrática”.
O jornal “O Estado de SP” declara cinicamente em editorial: “Nos últimos dois anos, na Bolívia não há lei a respeitar nem instituições que funcionem regularmente. O país está à mercê do arbítrio de um presidente que insiste em instituir uma forma de governo sui generis, baseado numa ideologia nacional-indigenista anacrônica e irresponsável, e um regime autoritário, à semelhança do que seu mentor Hugo Chávez vem praticando na Venezuela. A oposição, por sua vez, não tendo instituições às quais apelar, está compreensivelmente reagindo nos termos em que Evo Morales colocou a disputa: com atos de arbítrio, a mobilização dos movimentos cívicos e políticas de fatos consumados.” (OESP, 10/09/08 – grifos nossos). Esta é a burguesia “democrática” brasileira que para defender seus interesses não hesita em rasgar as leis, desconhecer suas próprias instituições e agir de armas na mão.
O governo brasileiro tem a obrigação mínima de rechaçar qualquer tentativa de negociação direta com os governadores golpistas e de reafirmar a soberania da Bolívia sustentando o governo Evo Morales contra toda tentativa de golpe.
Nenhum acordo com os golpistas fascistas da Bolívia!
Todo apoio ao governo Evo Morales contra os golpistas e o imperialismo EUA!

Viva a revolução do povo boliviano!

Esquerda Marxista
http://www.marxismo.org.br
São Paulo, 12 de setembro de 2008

GUERRA NA OSSÉTIA DO SUL: A ÚNICA SAÍDA É UMA FEDERAÇÃO SOCIALISTA DO CÁUCASO

APRESENTAÇÃO

Na noite de 7 de agosto do presente ano as tropas de Mikhail Saakashvili, atual presidente da Geórgia, país ex-integrante da extinta União Soviética, invadia a Republica Autônoma de Ossétia do Sul, também ex-integrante da ex-URSS, cerca de 200 km ao leste do Mar Negro e mais a leste a 700 km do Mar Cáspio. Prontamente, o exercito russo de Putin, em menos de 2 horas respondeu ao ataque, organizando uma ofensiva em larga escala por toda a Geórgia e só se “retirou” quando percebeu os germens de uma sangrenta guerra civil despontando. As tíbias exigências da ONU e da OTAN para que os russos saíssem do território georgiano, de certo modo expressavam um tom moderado, não querendo confrontar com a Rússia, pois esta serve aos seus interesses imperiais no Cáucaso, uma vez que o imperialismo norte-americano se afunda em uma crise internacional e interna sem proporções, com suas tropas cada vez mais empantanadas no Iraque/Afeganistão e, ao mesmo tempo, tendo que administrar os choques com o Irã.

Nessa região, onde se travou o confronto entre Geórgia e Rússia, em 1854-1855, o absolutismo czarista sofreu uma grande derrota político-militar na guerra que ficou conhecida como a guerra da Criméia.
A grande Rússia czarista estava então metida no meio de uma guerra de expansão imperialista que envolveu a Grã Bretanha, França e o decadente Império Turco.
O Mar Negro liga-se ao mar mediterrâneo por meio dos estreitos de Bósforo e Dardanelos. A burguesia russa queria abrir caminho à Europa por cima dos escombros do falido Império Otomano e, para isso, em 1853 invadiu a Moldóvia e Valaquia, atual Romênia, destruindo a frota turca.
Em 1854 a Grã Bretanha, unindo-se a França, declara guerra à Rússia e acabam por derrotar o exercito russo em Sebastopol no extremo sul da Criméia.

Quando o czarismo russo queria abrir caminho à Europa e se bateu contra os imperialismos franco-britânico na guerra da Criméia, combatendo os restos do império turco otomano, ele acentuou as contradições de classes na Rússia. Alexandre III, o czar que a governou de 1855 a 1881 soube aproveitar a derrota da guerra da Criméia para impulsionar uma forte indústria, pois compreendeu, rapidamente, que era impossível combater no terreno do imperialismo sem uma forte indústria. Com isso ele acelerou e concentrou as forças que viriam a ser as forças destruidoras de seus sucessores, o proletariado russo, que ameaçadoramente questionou o poderio de todo o império capitalista ao tomar o poder em 1917 e derrubar a burguesia e o czarismo, implantando a Republica dos Conselhos Operários, a República Soviética.

De lá para cá muita coisa mudou no mundo capitalista. O império Russo foi derrotado em 1917 com a grande revolução dos conselhos operários e depois o socialismo passou a controlar cerca de 1/3 da humanidade. Após a morte de Lênin, depois da sangrenta destruição da velha guarda bolchevique na guerra civil e depois perseguidos e assassinados a mando de Stalin, a revolução na atrasada Rússia, em que pese os significativos avanços devidos à planificação operária, permaneceu isolada, e sob a orientação da burocracia passou a estender aos povos e nações, pela força, o “comunismo” da casta dirigente, contrariando o direito - defendido pelos bolcheviques - à autodeterminação dos povos e da voluntária adesão à Republica dos Conselhos Operários. A usurpação e desnaturação dos Conselhos pela burocracia abririam as portas para a regressão.

A decomposição da URSS, sob a base da concepção do “socialismo em um só país”, exacerbou ao estremo os nacionalismos chauvinistas que, associados às máfias originadas na burocracia stalinista, que não só não resolveram os problemas da maioria da população das republicas e dos povos, como pelo contrário, com a re-introdução do capitalismo, acabou por reforçar a ganância imperialista em sua fase de putrefação em sua expansão pelo mundo. Esta fase de putrefação é constituída e integrada pelos restos da reacionária burocracia convertida ao capitalismo.

Toda essa região, que é hoje a Geórgia, ocupa um lugar fundamental na geopolítica européia, Russa e dos EUA, portanto, aos imperialistas. Petróleo, minérios, gás e mercado consumidor, eis o que procuram Bush, Putin/Medvedev, Sarkozy, Brown. Estão todos empenhados em destruir as conquistas operárias por meio de uma “moderna guerra da Criméia” da época da barbárie para, em nome da civilização e da humanidade, levarem a barbárie para todo o Mar Negro.

Cedo ou tarde os proletários da Rússia, da Geórgia, da Ossétia, compreenderão que a atual guerra é uma guerra reacionária. A guerra entre Rússia e Geórgia é, de certo modo, a continuidade da carnificina que destroçou a Iugoslávia. Os massacres de Kosovo estão vivos na memória de todos os revolucionários e Putin parece desejar uma “russa pura” para estabelecer a “pureza” do império capitalista russo. As máfias, resultantes da desagregação estalinista na época da barbárie adquirem cada vez mais as feições do fascismo e o imperialismo tornou-se seu cérebro.

O texto que ora apresentamos aos leitores é de autoria de dois de nossos camaradas da Corrente Marxista Internacional. E é uma importante contribuição ao debate entre os trabalhadores e entre os marxistas, exatamente por expressar e repor com clareza as tradições bolcheviques sobre a questão dos povos, a posição revolucionária frente às guerras interimperialistas, re-estabelecendo o lugar da luta pela construção das Republicas e das Federações dos Conselhos, contrapondo-as ao imperialismo, aos nacionalismos chauvinistas da moderna época da barbárie.

Certamente a ocupação militar da Ossétia do Sul pelo governo da Geórgia, aliado do imperialismo, pode induzir alguns a pensarem em apoiar a ação militar Russa, supostamente em oposição ao capital. Nada pode ser mais equivocado e danoso ao proletariado e aos povos da Osetia e da Geórgia do que lhes colocar a falsa opção entre o imperialismo de Putin e das máfias engendradas pela burocracia e pelo imperialismo da OTAN, capitaneado pelo imperialismo norte-americano. Trata-se de abrir a via para a revolução no terreno internacionalista e, na linha da Revolução Permanente para derrotar o serviçal Saakashvili, governo de plantão do imperialismo estadunidense, cria siamesa da camarilha burocrática, herdeira direta da dinastia estalinista, filhos bastardos do imperialismo e como parte constitutiva do combate para derrotar a camarilha imperialista putinista. Somente essa perspectiva permitirá abrir a via do combate pelos Conselhos Operários, retomando as tradições da revolução de 1917.

Boa leitura!

TITULO: “GUERRA NA OSETIA DO SUL
A ÚNICA SAÍDA É UMA FEDERAÇÃO SOCIALISTA DO CÁUCASO”.
AUTORIA: TOM ROLLINGS E FRANCESCO MERLI - CORRENTE MARXISTA INTERNACIONAL.
21 de agosto de 2008.
TRADUÇÃO: Wanderci Silva Bueno
wanderci.bueno@gmail.com
REVISÃO: Lucas de Mendonça Morais
Depois de meses e anos de disparos de franco atiradores e de acumulação de tropas de ambos os lados da fronteira, a guerra explodiu na Ossétia do Sul na noite de quinta feira, 07 de agosto, quando o presidente da Geórgia, Mikai Saakashvili deu ordens para a invasão da Republica Autônoma e para o bombardeio criminoso de sua capital, Tskhinvali. Segundo fontes oficiais russas: “mais de 1600 civis e alguns soldados russos deslocados para a tarefa de manter a paz morreram nos combates antes das forças russas retomarem a República Autônoma. Milhares de refugiados abandonaram tudo o que tinham e fugiram para a Ossétia do Norte na Rússia, pedindo aos russos que viessem resgatar a Ossétia do Sul”.
Esta foi a justificativa que o Kremlin estava buscando para se estabelecer na região e reafirmar seu papel como potencia regional. O momento não poderia ser mais favorável, diante do imperialismo estadunidense empantanado no Iraque e Afeganistão e sem meios de abrir uma nova frente no Cáucaso.
Dada a velocidade com que o exercito russo respondeu (somente horas depois do ataque georgiano), está claro que os estrategistas russos estavam esperando o ataque e as forças deslocadas e acantonadas na fronteira com a Ossétia do Sul estavam já em estado de guerra, preparadas para a intervenção.
Em que pese a dureza dos combates, as forças georgianas demonstraram ser incapazes de manter o controle da capital da Ossétia do Sul e tiveram que abandoná-la. A contra-ofensiva russa afastou o exercito georgiano e retomou o controle de Ossétia do Sul em menos de 48 horas. Na sexta-feira, 11 de agosto, os tanques e as tropas russas entraram no território georgiano e chegaram até Gori (perigosamente perto da capital da Geórgia, Tblisi), para mostrar que podiam tomar facilmente os centros estratégicos do país, enquanto bombardeavam as infra-estruturas militares chaves e cortavam o acesso à Abkhazia, outra Republica Autônoma que a Geórgia reclama, bem como os portos do Mar Negro.
A contra-ofensiva russa incluiu bombardeios desde grandes altitudes que destruíram o controle de Gori, matando dezenas de civis e um câmera holandês. Cenas semelhantes às que se viram em Ossétia do Sul se repetiram na Geórgia com milhares de civis fugindo de suas casas diante do terror produzido pelo contra ataque russo, segundo informou a mídia internacional.


A INGERÊNCIA IMPERIALISTA CAUSOU A GUERRA

Por cima das declarações dos governos russo e georgiano, vemos que a guerra não tem nada de progressista para nenhum dos lados. O atual pesadelo da guerra e o nacionalismo na região do Cáucaso são resultados da ingerência imperialista. Mas também são resultados do nacional-chauvinismo da antiga burocracia soviética, que estava apodrecida pelo chauvinismo Grã Russo, e que desencadeou por sua vez o aumento do chauvinismo regional contra Moscou. Estas tendências centrífugas foram um fator na desintegração da URSS e, como no caso da ex-Iugoslávia, levaram às sangrentas guerras civis em muitas das ex-republicas soviéticas. Estes conflitos permaneceram adormecidos até o dia de hoje, como uma série de feridas ulcerosas, que não foram curadas e que podem explodir violentamente a qualquer momento.

Criminosamente, os imperialismos norte-americano e russo têm intervido nesses conflitos por seus interesses estratégicos e esferas de influência. Os norte-americanos utilizam a Geórgia como um baluarte contra a Rússia e no sul do Cáucaso. A Rússia utiliza a Ossétia do Sul e a Abkhazia com peões em sua batalha para redesenhar as esferas de influência na região que está conectada com a importância estratégica da Geórgia como rota para os oleodutos que vão desde o Mar Cáspio até o ocidente e, no futuro, possivelmente gasodutos.
Alan Woods explicou este processo claramente no artigo “A Revolução Pacifica” da Geórgia anuncia novos conflitos”, publicado em novembro de 2003 quando Saakashvili chegou ao poder.

“Com a demissão do presidente georgiano Shevardnadze, um radical da oposição pró-estadunidense chegou ao poder em Tblisi. Tudo isso forma parte da intenção de Washington de aumentar sua influencia no Cáucaso, porém isso também acendeu as luzes de alarme no Kremlin. Os russos não ficarão com os braços cruzados enquanto um país chave ao sul de sua fronteira passa diretamente ao campo do imperialismo estadunidense.
Estes acontecimentos sem dúvida preparam o caminho para um conflito maior e para a desintegração da Geórgia. Os russos apertarão os parafusos contra a Geórgia. As chamadas regiões independentes e os dirigentes políticos pró-Moscou estão dispostos a lutar contra a nova direção da capital. Como nenhum desfruta de um apoio majoritário, o caos e a violência prevalecerão provocando novos levantamentos, guerras, derramamentos de sangue e miséria em toda essa maravilhosa e desafortunada região, tudo com a intenção de sabotar os planos dos EEUU de extrair o petróleo do Cáspio.
Nina Burdzhanadze, que foi a primeira a dar uma declaração televisionada depois da demissão do presidente, disse: ‘Conseguimos superar a crise mais grave da historia recente da Geórgia sem derramar uma só gota de sangue’. Porém, falou demasiadamente cedo. As intrigas dos imperialistas provocarão um derramamento de sangue maior antes que a crise termine de uma forma ou de outra. Os novos governantes olham nervosos, por cima de seus ombros, a Rússia. Burdzhanadze anunciou o final da campanha de desobediência e disse que o país deve trabalhar para fortalecer seus laços com seus vizinhos e com ‘o grande Estado Russo’. Contudo estas palavras não impressionam o Kremlin. A Rússia está olhando muito de perto a política e a conduta do novo governo de Tbilisi, preparando-se para apertar-lhe os parafusos. O resultado será novas guerras, caos e horror sem fim”.

E mais adiante acrescentava: “Washington e Moscou tratam os pequenos, débeis e divididos estados caucasianos, como simples peões no jogo onde toda a região parece ser um grande tabuleiro de xadrez. EEUU move sua peça, a Rússia responde, o resultado é a guerra, um assassinato, uma explosão, um golpe militar ou uma ‘cruel revolução’. Agora estamos à espera do próximo movimento. Não sabemos quando e onde responderá Moscou, porém, uma coisa está clara: os perdedores serão a população civil, os pobres e os indefesos.”

Na época atual do imperialismo, nações com Geórgia ou Ossétia são muito pequenas para jogarem um papel independente. A independência nacional para estas nações, sob o capitalismo, não significa liberdade, mas sim mais militarismo e opressão, subordinados aos interesses de uma potência contra a outra.

POR QUE GEORGIA ATACOU OSSÉTIA?

O ataque contra a Ossétia do Sul, por iniciativa da elite dominante da Geórgia, foi uma aposta calculada que se voltou contra ela. Saakashvili estava muito debilitado depois de um massivo movimento de protestos, ocorridos no mês de dezembro de 2007, contra a corrupção. Ele se pôs a denunciar aquele movimento como uma conspiração da Rússia e decretou o Estado de Emergência enquanto, ao mesmo tempo, convocou eleições presidenciais antecipadas para janeiro, ganhando-as. Em abril o presidente Russo, Putin conseguiu um acordo com Abkhazia e Ossétia do Sul, que estabelecia relações especiais com a Federação Russa. Este movimento forçou o curso de Saakashvili. Ele não podia permanecer quieto como se nada tivesse ocorrido enquanto no Cáucaso, diante de seu nariz, a interferência Russa crescia sem obstáculos.
A aposta de Saakashvili invadindo a Ossétia do Sul era reforçar a posição da Geórgia nesta Republica Autônoma, embora sem ocupá-la permanentemente, pois isso era impossível para agrupar a população georgiana em torno de uma agenda nacionalista. O governo georgiano esperava que, apesar de todos os protestos, os russos aceitariam a humilhação, como fizeram em relação ao Kosovo ou com a expansão da OTAN sobre os países bálticos, e que não se atreveriam a implicar-se em uma intervenção militar direta contra um estreito aliado do imperialismo dos EEUU como o é a Geórgia. Depois de tudo, os dirigentes georgianos parece haver pensado: ‘isso é o que a Rússia vem fazendo na maioria das vezes nos últimos anos, cada vez que seus interesses entraram em colisão com os EUA.’
Porém existe algo a mais que isso. É muito difícil imaginar que Saakashvili tenha lançado um ataque contra o desejo dos EUA. O governo georgiano depende da ajuda e apoio dos EUA, e os estrategistas do EUA devem ter respaldado a aposta de Saakashvili; um sério erro de sua parte. Porém, eles atacaram por seus próprios objetivos imperialistas: comprovar uma vez mais a reação russa. Agora que perderam desastrosamente a aposta, têm duas opções: ou admitem o erro por não haver considerado que a relação de forças entre EUA e Rússia se alterou na região, ou reconhecem que o governo da Geórgia lhes mentiu, escondendo suas intenções. Mesmo que aceitemos que o governo georgiano atuou por sua própria iniciativa: como explicar que Saakashvili poderia manter escondido dos EUA os preparativos para o ataque? Deveríamos crer que o serviço de inteligência russo estava mais bem informado que as centenas de conselheiros e diplomatas estadunidenses encontrados aos montes em Tiblisi? Em ambos os caso os EUA saem deste conflito com sua credibilidade comprometida.

O IMPERIALISMO RUSSO FORTALECIDO

Por outro lado, a Rússia não é a mesma de 10 anos passados. Recuperou-se de sua debilidade econômica e militar e nos anos recentes estava tentando uma maneira de romper com o cerco estrategicamente orquestrado pelo imperialismo dos EUA desde o colapso da União Soviética.
Durante mais de 15 anos o imperialismo dos EUA manobrou para conseguir vantagem frente à crise russa, estabelecer laços fortes e alianças com as ex-repúblicas da URSS e seus antigos aliados na Ásia Central, no Cáucaso, no leste da Europa e no Báltico. A expansão da OTAN na Polônia, Hungria e a Republica Tcheca, em 1998 e, novamente em 2004, com a segunda expansão que absorveu os restos dos antigos países, satélites da URSS na Europa Central, e os três estados bálticos (Letônia, Lituânia, Estônia), foi considerada corretamente pela elite militar russa como uma ameaça estratégica, e convenceu o Kremlin de que tinha que aproveitar qualquer oportunidade para reverter essa posição.
A mudança de atitude e o crescente poder econômico de negociação do governo russo colocaram-se em relevo nos últimos anos com a decisão unilateral de cortar o fornecimento de gás à Ucrânia e a Republica Tcheca. Porem, a Rússia nunca recorreu ao uso da força militar antes deste 8 de agosto. O que aconteceu? Um informe da Inteligência Geopolítica publicado por Stratfor comentou o seguinte: “Os russos mudaram de forma drástica, junto com o equilíbrio de forças na região. Deram as boas vindas à oportunidade de mostrar em casa a nova realidade: que eles poderiam invadir a Geórgia e que os EUA e Europa não poderiam responder. Quanto ao risco, não consideram a invasão como de alto risco. Militarmente não teriam contendores a altura. Economicamente a Rússia é um exportador de energia e está fazendo isso com competência – e, de fato, os europeus necessitam da energia russa, inclusive em maior medida que a necessidade dos russos em vender-lhes. Politicamente, como veremos, os norte-americanos necessitam mais dos russos do que estes necessitam dos norte-americanos. O cálculo de Moscou foi que este era o momento de golpear. Os russos estavam se preparando há meses... e golpearam.”
A Geórgia passou a ser o ponto mais débil da cadeia da rede de alianças do imperialismo dos EUA na região e a melhor maneira para a Rússia de mostrar ao mundo (e, sobretudo aos países vizinhos) que o imperialismo dos EUA não foi capaz de cumprir o que prometeu: dar proteção aos débeis satélites da ex-URSS diante do poderoso vizinho. Como o diretor da Stratfor voltou a assinalar: "os russos sabiam que os Estados Unidos denunciariam seu ataque. Isso de fato é um jogo que favorece aos russos. Os protestos ruidosos destes dirigentes contrastam com sua não-ação e os russos queriam mostrar em sua casa a idéia de que os norte-americanos garantiam unicamente palavras vazias".


AMARGA SURPRESA PARA O IMPERIALISMO DOS EUA

A guerra na Geórgia forçou o reconhecimento repentino de uma realidade: a Rússia converteu-se em um poder imperialista regional suficientemente forte para reclamar aos EUA a devolução de sua antiga esfera de influência. O comentário arrogante: "Não são um grande potencia, são uma Arábia Saudita com arvores", é mais significativo porque provém de um veterano diplomático dos EUA (ex-embaixador dos EUA na ONU) que foi entrevistado em 13 de agosto pela BBC e colocou em evidência até que ponto os imperialistas dos EUA foram tomados de surpresa pelos acontecimentos.
O presidente dos EUA, George Bush, não é o homem mais inteligente do mundo, porém, em relação à Geórgia se viu obrigado por seus assessores mais inteligentes a adotar uma posição cuidadosa. Embora tenha utilizado uma retórica beligerante para insinuar que a Rússia seria expulsa do mundo moderno dos países avançados se não mudasse de atitude, mas não pôde anunciar nenhuma ação ou medida concreta, a não ser prometer ajuda humanitária a Geórgia a cargo dos militares dos EUA. Na terça feira, 12 de agosto, o presidente francês Sarkozy, atual chefe da União Européia (UE), visitou Moscou e Tbilisi para negociar um acordo. Porém, o que afirmamos para os EUA é mais certo ainda para a UE: não há muito o quê a UE possa fazer com a Rússia nesse terreno. Um acordo poderia ser alcançado somente com o reconhecimento de que a Rússia teria alcançado seus objetivos na guerra.

VENENO CHAUVINISTA

Na Rússia, a elite dominante tem enrolado os meios de comunicação com uma onda de histeria de guerra. O sofrimento da população de Ossétia do Sul é utilizado para manipular a compreensível explosão da indignação popular e justificar o contra-ataque, porém, a propaganda de guerra conectou-se a um ressentimento profundo, arraigado na classe operária russa contra o imperialismo dos EUA. Os dirigentes sindicais e do Partido Comunista capitularam diante do Kremlin na guerra, do mesmo modo que tão pouco desafiam sua política em tempos de paz. No lugar de levar uma política na defesa da classe operária, levam a ideologia burguesa ao movimento operário e ao movimento comunista. Isso é particularmente claro na questão da guerra. Devido à falta de alternativas, isso temporariamente alimenta o apoio a Putin.
Porém o militarismo é uma maldição para o povo russo. O contra-ataque à Geórgia é um sinal de que as ambições imperialistas do Kremlin e a ganância das oligarquias podem dar lugar a novas aventuras.
Grandes populações de russos vivem na Criméia, nos países bálticos e Cazaquistão. Para onde será levara a "defesa dos cidadãos russos" fora das fronteiras da Rússia? As perspectivas econômicas para a Rússia são incertas. O governo, assim como os capitalistas, estão preparando novas ondas de rebaixamento e ataques ao nível de vida da população, em particular aos direitos dos trabalhadores e dos sindicatos. O veneno chauvinista é a rama que a classe dominante da Rússia sempre utiliza para fazer com que os trabalhadores russos e os cidadãos, sem outra perspectiva, aceitem a preponderância dos militares enquanto que as pessoas são tratadas como cidadãos de segunda classe.
Na Geórgia, onde existem milhares de refugiados da primeira guerra na Ossétia do Sul em 1992-94, há um ódio amargo por detrás dessa nova derrota. Na terça feira, 12 de agosto, uma multidão de 150.000 pessoas se reuniram em Tbilisi para expressar seu apoio a Saakashvili em um ambiente de solidariedade nacional impulsionado pelo ódio à agressão russa. Sem duvida, o futuro de Saakashvili é incerto, independentemente do elevado apoio que desfruta nesse momento. Suas políticas de apoio ao Ocidente para golpear a Rússia terminaram em fracasso. Muitos manifestantes mostraram sua raiva maldizendo o imperialismo dos EUA por não vir em sua defesa contra a Rússia.


A PROPAGANDA DE GUERRA: O PRECEDENTE DE KOSOVO E A QUESTÃO DA OTAN

O governo russo afirmou que suas operações militares na Ossétia do Sul foram motivadas por considerações humanitárias. Para isso, o Kremlin utiliza a mesma lógica que a OTAN utilizou para justificar seu ataque contra a ex-Iugoslavia em 1999. Sem duvida, os estrategistas da OTAN respondem que a Rússia se opôs a guerra da OTAN nos Bálcãs. Se os argumentos da OTAN estavam equivocados em relação ao Kosovo, por que agora os argumentos russos deveriam ser melhores em relação à Ossétia do Sul? Aqui a resposta da Rússia é muito mais forte que as mentiras elaboradas em grandes quantidades pela OTAN naquele momento. Mais de 90% da população de Ossétia do Sul é de origem russa. E a propria força de paz russa foi diretamente atacada. A OTAN não pode opor argumentos similares aos que adotou em sua intervenção em Kosovo em 1999. O governo russo, portanto, chega à conclusão de que atuou de forma perfeitamente legitima em defesa da Ossétia do Sul frente à agressão da Geórgia.
Duas conclusões se impõem. Em primeiro lugar, a derrota da Geórgia é um revés para a OTAN e para o imperialismo dos EUA, debilitando a OTAN no Cáucaso. Em segundo lugar, os trabalhadores e o povo da Geórgia, incluindo os refugiados que fugiram da Ossétia do Sul e Abkazia nos anteriores conflitos, na luta por seus direitos, não podem confiar no imperialismo. Eles têm sido utilizados como moeda de troca na política de medição de forças entre as potencias imperialistas em luta. A única alternativa é a luta de classes, começando pela luta de classes contra a oligarquia russa e georgiana.

SOBRE A DEFESA DA OSSÉTIA DO SUL

O assassinato de civis na Ossétia do Sul (pelas tropas georgianas, NTD) é uma ação criminal completamente reacionária. Sem duvida, isso não justifica a posterior matança de civis na Geórgia (promovida pelas tropas russas, NDT). Pelo contrário, isso apenas servirá para provocar ainda mais assassinatos étnicos no futuro.
A sistemática preparação para a guerra por parte da Geórgia e da Rússia demonstra que ambas as partes estão por sua própria conta, de seus interesses reacionários. No dia 17 de julho mais de 8.000 soldados russos e 700 unidades de blindados tomaram parte em exercícios de treinamento denominado "Kavkas 2008". Nesses exercícios ensaiaram uma luta contra supostos terroristas da Ossétia do Sul e da Abkazia e inclusive com preparativos para evacuar refugiados. No dia anterior mais de 600 soldados da Geórgia realizaram um conjunto de exercícios onde treinaram juntos de 1000 soldados dos EUA. Esta operação foi denominada "reação rápida 2008".
A verdade é que para o Kremlin as questão da Ossétia do Sul e dos direitos dos ossetianos são de importância secundária.
O fato de que o teatro da guerra se estendeu para muito mais além da Ossétia do Sul e Abkazia também destaca que o objetivo dos governantes russos não era o da defesa do povo ossetiano, como alegaram eles, senão que queriam infligir um duro golpe à Geórgia e esmagar sua estabilidade como estado independente, com o fim de impor uma mudança de regime em Tbilisi.
O tema das relações pacíficas no Cáucaso não se resolve com a presença de nenhum exercito na região. Putin declarou que a Ossétia do Sul não será reintegrada a Geórgia. Também está claro que a Ossétia do Sul é muito pequena para funcionar como um estado independente viável, e que qualquer declaração de independência nacional seria provavelmente um passo na direção de sua integração na Federação Russa.
O imperialismo e o capitalismo são parte do problema e não sua solução. A questão nacional simplesmente não pode resolver-se no capitalismo. Isso é correto não por razões ideológicas, mas sim por razões bem concretas e materiais. Lênin descreveu a questão nacional como uma questão de pão. A única maneira de resolver esse problema é mediante o desenvolvimento das forças produtivas. Isso pode ocorrer com a liberação das nacionalidades oprimidas frente à intromissão imperialista. Para levar essa tarefa adiante de maneira completa, é necessária a expropriação dos bens das empresas imperialistas e dos oligarcas locais, com uma planificação harmônica das forças produtivas sob a gestão e controle democráticos dos trabalhadores.
Como pode ser resolvido o assunto do retorno de todos os refugiados sob bases capitalistas? Nos marcos do capitalismo isso somente significará uma maior competição para conquistar parcos recursos, empregos, moradias, assistência medica, educação e outros serviços, o que incrementaria ainda mais as tensões nacionais ou religiosas. A independência de Ossétia do Sul e sua integração na Federação Russa terminarão inevitavelmente em uma limpeza étnica da minoria georgiana entre a população da Ossétia do Sul, o que por sua vez fortalecerá os ressentimentos da população georgiana e preparará novas guerras e maiores instabilidades.

A COMPLEXIDADE DA QUESTÃO NACIONAL NO CÁUCASO

O Cáucaso tem sido durante milhares de anos uma encruzilhada de diferentes povos, línguas e religiões. A perspectiva de separação física dos diferentes povos como "solução" para a questão nacional é uma loucura reacionária.
Vejamos, por exemplo, o caso da Ossétia do Norte hoje, assim como de outras repúblicas do Cáucaso. Com o colapso da URSS, os ossetianos do norte, que eram cidadãos russos, lutaram com seus vizinhos ingushetios, que também eram cidadãos russos. Esta guerra foi o trágico resultado da catastrófica política de Stálin sobre a questão nacional. Centenas de milhares de ingushetios, assim como chechenos, foram exilados por ordem sua na década de 1940. (Ver a este respeito “Stalin Liquida duas Republicas” por Ted Grant).
Grande parte da terra do povo ingushetio não foi devolvida. Milhares de ingushetios seguem vivendo em condições primitivas no que são basicamente, acampamentos de refugiados. O potencial de violência, que pode explodir a qualquer momento, explica porque os terroristas escolheram Beslan, cidade da Ossétia do Norte, para um horrível ataque terrorista a uma escola em setembro de 2004. Queriam convencer aos ossetianos que os terroristas eram ingushetios e provocar uma nova guerra civil, o que poderia haver ocorrido em 2004 ou em qualquer momento futuro. Seguramente, os ossetios que se deslocaram para essa terra e trabalharam nela durante três ou quatro gerações e que não possuem outro local para onde ir, também tem direitos que ser levados em conta, Trata-se de um assunto delicado e complicado.

VOLTAR A LENIN!

Em seu livro, “Rússia: da revolução à contra-revolução”, escrito em 1996, Ted Grant resume o enfoque de Lênin e dos bolcheviques sobre a questão nacional, vale a pena citar em detalhe: “A Rússia czarista era uma prisão para as nacionalidades. Uma das chaves do êxito da revolução bolchevique foi sua política sobre a questão nacional. Lênin se deu conta de que a única maneira de construir uma nova federação socialista era sob a base da igualdade completa das minorias nacionais que formavam a Rússia. Não poderia haver nenhum tipo de coação de uma nação sobre a outra. Somente se poderia estabelecer uma republica socialista como união voluntária de nacionalidades. Em conseqüência, o direito das nacionalidades a autodeterminação estava gravado na bandeira do partido e a da jovem republica soviética, incluindo o direito a separação em um caso extremo.

Lênin defendia a unidade dos povos do antigo império czarista, porém, teria que ser uma unidade voluntária. Por isso insistiu desde o inicio no direito a autodeterminação. Esta idéia freqüentemente é mal interpretada como sendo uma exigência de separação, porém, isso é totalmente incorreto. Os bolcheviques não estavam a favor da separação, e sim, faziam a defesa da extensão, a mais ampla possível, do direito a autodeterminação, incluindo até mesmo a separação. Ninguém tem o direito a obrigar a um povo a viver dentro dos limites dos confins de um Estado quando a maioria assim não o deseja. Mas o direito à autodeterminação não implica a reivindicação da separação, da mesma maneira que o direito ao divórcio não significa que todos os casais tenham que separar-se, assim como que o direito ao aborto não significa que tenha que dar um fim em todas as gestações”.

E também é importante assinalar que:
“O direito à autodeterminação era uma parte importante do programa de Lênin, na medida em que demonstrava aos operários e camponeses (especialmente a estes) oprimidos da Polônia, Geórgia, Letônia e Ucrânia, que os operários russos não tinham nenhum interesse em oprimir-lhes e que defenderiam firmemente seu direito a decidir seu próprio destino. Porém isso era só a metade do programa de Lênin sobre a questão nacional. A outra metade era igualmente importante: a necessidade de manter a união do proletariado por cima de todas as diferenças nacionais, lingüísticas ou religiosas. No que diz respeito ao partido bolchevique, Lênin sempre se opôs a qualquer tendência de dividir o partido (e o movimento operário em geral) por nacionalidades”.

Lênin se opôs a qualquer manifestação de chauvinismo grã russo: “declaro guerra de morte ao chauvinismo Grã Russo”, escreveu à Kamenev, e considerou que esta questão era tão importante a ponto de determinar uma decisão irrevogável de romper com Stálin, quando já estava doente, depois da vergonhosa conduta mantida por Stálin e Dzerzhinsky contra a oposição dos comunistas georgianos a seus planos de Federação. Ted Grant explicou assim a questão: “Depois da revolução, Lênin pensava que poderia haver uma união fraternal e voluntária dos povos do antigo império czarista na forma de uma Federação Soviética. Com este fim, exigiu que a questão das nacionalidades fosse tratada com extrema sensibilidade. Era necessário eliminar toda a manifestação de chauvinismo grã russo. De fato, durante algum tempo depois da Revolução de Outubro, a alvará Rússia desapareceu completamente dos documentos oficiais. O nome oficial da terra de Outubro era simplesmente “o Estado Operário”.
O enfoque dado por Lênin é o ponto clave para buscar uma forma de sair deste pesadelo, no Cáucaso e no resto da antiga União Soviética.

POR UM NOVO OUTUBRO

A luta de classes em todos os países, começando pela Rússia, está agora envenenada pela questão nacional. Os trabalhadores russos não ganharão nada com a guerra na Geórgia, ela, a guerra, fortalece a Putin e ajuda a proliferação de organizações neonazistas que participam na violência contra os trabalhadores e a juventude da região do Cáucaso e no futuro contra os trabalhadores russos e suas organizações.
Somente os marxistas podem proporcionar um programa e uma perspectiva para resolver as cicatrizes da questão nacional, saída esta que depende da luta da classe operária e do estabelecimento de uma Federação Socialista de Estados da ex-União Soviética e em nível internacional.
A alternativa socialista pode parecer muito distante e difícil. Sem duvida, as bases para ela já foram semeadas, no passado e na prática, pela Revolução de Outubro. Ela é uma inspiração para a luta contra o capitalismo, o imperialismo e nacionalismo de hoje. Do contrário, o presente do capitalismo será o horror sem fim.

Hoje, os inimigos da classe operária da Rússia são os novos amos capitalistas. Isso é percebido no ódio que a classe operária tem contra o capitalismo. O estado de ânimo entre os trabalhadores não é diferente de outras ex-repúblicas soviéticas, incluída a Geórgia, onde há uma forte polarização de classe na sociedade e a oligarquias do tipo Kaja Benkuidze, que fizeram fortuna com a industria de metais nos Urais durante as privatizações e que posteriormente passou a ser ministro no governo Saakashvili, o qual prometeu o famoso: “privatizar tudo, menos sua consciência”.

Até mesmo na Geórgia registrou-se recentemente uma reação contra a oligarquia georgiana, vimos isso nos protestos violentamente reprimidos pelo Estado da Geórgia, no final do ano passado. No momento na Geórgia haverá confusão e comoção frente à guerra e amargura contra a Rússia. Porém a luta de classes superará o momento de histeria. A demagogia nacionalista de Saakashvili é um sinal de sua debilidade. Sem ela não tem uma base estável de apoio. Todos os políticos burgueses da Geórgia e suas políticas estão ocas. Os trabalhadores não têm mais nenhuma opção, a não ser resistir e responder.

De fato, a erupção de guerras que não cicatrizam na face do planeta não são somente um sinal de reação. Estas guerras são também um sinal da crise do sistema em escala mundial. A globalização significa não somente a ascensão de um capitalismo econômico e militar nos fatos, senão também a crise globalizada do capitalismo e o potencial dos trabalhadores para lutarem contra os males do capitalismo em todos os países. Se Lênin estivesse falando hoje aos trabalhadores, começaria por destacar em cada país a crise mundial do capitalismo, e a maneira concreta que se desenvolverá a perspectiva da revolução mundial, que já se iniciou na América Latina, e está encontrando eco na America do Norte, Europa e Oriente Médio.

Lênin colocaria também em destaque, que existem duas Américas do Norte, a America do Norte dos capitalistas e a America do Norte dos trabalhadores e também explicaria em cada momento que existem duas Rússias.
A desigualdade nunca chegou em níveis tão profundos como tem chegado no momento atual. O distrito de Rubloyvka perto de Moscou tem mais milionários por quilometro quadrado do que em qualquer outro lugar do mundo, assim como o parlamento russo tem mais milionários do que qualquer outro parlamento do mundo. Estes personagens, fabulosamente ricos, vivem de fato em outros países, e dispõem de especial proteção policial. São como uns tribunos em desfile, quando viajam pelas avenidas o trafego deve deter-se. Eles não possuem nenhum vinculo ou contato com os russos comuns, do dia a dia, cujos salários estão sendo corroídos pela inflação, ou estão sendo cortados pela simples ganância dos patrões. Este foi o caso dos mineiros de Severouralsk.
Depois de duas décadas sofrendo ataques, os trabalhadores russos estão começando a lutar. Isso pode ser temporariamente interrompido pelo frenesi do êxito militar russo. Porem, a política exterior do Kremlin não tem nada de progressista para os trabalhadores russos, para os quais não resta outra opção que não seja a de lutar contra seus amos capitalistas tanto em casa como no estrangeiro.

Não há nenhuma saída para os trabalhadores russos e georgianos que não seja a da união de suas forças, enfrentando juntos a ingerência imperialista e a de seus próprios exploradores. A única tradição que pode unir a todos os trabalhadores, independentemente de sua nacionalidade, idioma, cor ou religião é a do bolchevismo, a tradição de Outubro.

VIVA A SOLIDARIEDADE PROLETÁRIA!
POR UM NOVO OUTUBRO!
POR UMA FEDERAÇÃO SOCIALISTA DO CAUCASO E INTERNACIONALMENTE!


Fonte: Corriente Marxista Revolucionaria - CMR – Venezuela

UNIVERSIDADE VERMELHA - APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS

A Esquerda Marxista é uma tendência internacionalista que luta pela Revolução Proletária mundial e se reivindica das tradições de Marx, Engels, Lênin, Trotsky, e outros revolucionários, lutando no mundo todo pela construção dos Partidos Operários e por uma Internacional Revolucionária.

Nosso ponto de partida é o Marxismo e as lutas da classe operária, portanto a dialética e o materialismo histórico como métodos de analise e compreensão da luta de classes. Defendemos a necessidade da independência política para a construção dos Partidos Revolucionários frente à burguesia e seu Estado.

Para nós a teoria revolucionária (o marxismo) é a ferramenta indispensável para que a classe operária e os oprimidos em geral lutem pela tomada do poder, contra a grande propriedade privada dos meios de produção e pela construção de uma sociedade sem classes e, para tanto, se serve de um programa de transição ao comunismo: o programa da revolução socialista que sintetiza as grandes revoluções proletárias, iniciadas com a revolução de 1905 na Rússia e que hoje encontra seu pólo mais avançado na revolução que se desenvolve na Venezuela.

Não existe ação revolucionaria sem a teoria revolucionaria, não existe ação revolucionaria sem que a classe operária, a sua vanguarda e a juventude marxista se apropriem dessa teoria.
Durante anos o estalinismo e todas as suas variantes sectárias e esquerdistas, adulteraram o marxismo e o leninismo, transformando o conhecimento em algo que deve se adequar às suas idéias para supostamente transformar a realidade que teima em contradizê-las. Os resultados de toda essa operação onde a degenerescência é a regra, sempre predominam a alienação e a barbárie, fazendo sucumbir às organizações operárias diante das burguesias e do imperialismo, transformando suas direções em correias de transmissão e agentes dos exploradores, ameaçando cada vez mais a humanidade de ser inexoravelmente arremetida para trás.

A Universidade Vermelha é um curso permanente da Esquerda Marxista. Um curso de formação política voltado para todos aqueles que pretendem intervir na luta de classes e que buscam resgatar o socialismo científico, para juntos, a partir da critica fraterna e da luta comum, avançar na emancipação do proletariado, abrindo a via ao comunismo.

Ao iniciarmos nossas atividades em BH, começando pelo estudo de Marx, entendemos que isso não é uma casualidade e que, longe de travarmos um debate acadêmico, estaremos ajudando a abrir a via para resgatar o verdadeiro marxismo, passo indispensável para que, conscientemente, os atores da revolução, os jovens revolucionários e os trabalhadores, coloquem a teoria à disposição da libertação da humanidade, pelo fim da barbárie, pelo socialismo.

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